sábado, 1 de outubro de 2011

DEPENDÊNCIA QUÍMICA E ESPIRITUALIDADE


A dependência química é uma patologia que está basicamente ligada à falta de limites e a uma enorme impossibilidade de lidar com as dificuldades, frustrações, inerentes a vida humana. O ser humano para ser verdadeiramente feliz precisa desenvolver as três dimensões da vida (física, emocional e espiritual) de forma harmoniosa. Infelizmente isto raramente acontece.

Não é raro encontrarmos pessoas que se desenvolveram muito na dimensão intelectual, que têm grande sucesso na profissão, mas são pessoas frágeis emocionalmente e muitas vezes estão "engatinhando" na vida espiritual. Este descompasso causa uma insatisfação interior muito grande. Quantos jovens se drogam por não encontrarem um sentido para suas vidas ou porque não conseguem lidar com suas inquietações interiores que na maioria das vezes nem sabem nomear?

Quando um dependente vai para um tratamento em comunidade terapêutica, recebe ali um apoio que engloba as três dimensões do ser humano: físico, emocional, e espiritual. Cada comunidade trabalha a espiritualidade dentro de sua religião e mais ainda, dentro de seu carisma próprio, ou seja, de sua forma de viver a espiritualidade.

Diante disto, seria mais adequado quando possível, que o dependente que já tenha alguma base ou opção religiosa, possa ser internado em uma comunidade que venha ao encontro de sua religião, evitando assim, que se crie mais um conflito dentro e fora dele, bem como na família quando retornar.

A religião é um caminho, um limite, é essencial para a vida do dependente e de sua família. Será que quando estou rejeitando seguir uma religião, seja ela qual for, não estou de alguma forma querendo viver esta dimensão da vida sem limites?

Alguns adictos se convertem verdadeiramente durante a internação. Ao retornar ao lar, estão cheios de Deus e de esperanças em uma vida nova. No entanto, muitas vezes, encontram em casa um ambiente hostil  com mágoas, ressentimentos, agressões verbais, lembranças passadas, carregado de insegurança e desconfiança.

Algumas famílias chegam até a desconfiar da conversão ou nem conseguem compreender, principalmente se não possuem uma vida de oração. E esta incompreensão, pode abrir as portas para uma recaída posterior.

A família do dependente precisa de tratamento e de conversão tanto quanto ele porque a droga desestrutura o relacionamento entre as pessoas e deixa marcas emocionais e comportamentais profundas nos membros da família, marcas estas que somente Deus pode curar e libertar.

A diferença entre o co-dependente e o dependente é que a droga do dependente é muitas vezes ilícita e a droga do co-dependente é lícita; e muitas vezes, vista até como algo muito legal - porque o co-dependente é aquele que não vive para si, ele vive para "cuidar" do outro, ele vive a vida do outro. A sua droga é o "cuidado", o "controle".

Durante a internação, o dependente se trata durante 24 horas em um período que varia de 4 meses a 1 ano, mais ou menos; o co-dependente na maioria das vezes participa de um grupo de apoio uma vez por semana ou quem sabe duas. O dependente em uma comunidade terapêutica trabalha de forma intensa a sua espiritualidade, a religião da comunidade.

A família, em diversos casos, considera que pequenos momentos de espiritualidade são suficientes ou quem sabe até desnecessários, porque acreditam que somente através do grupo obterão um bom resultado.

É importante ressaltar que o grupo nos fortalece emocionalmente (trabalha a nossa mudança de comportamento), mas precisamos do fortalecimento espiritual para encontrar força, sabedoria, coragem e perseverança para praticarmos o que o AE nos propõe. E esta força, nós encontramos praticando uma religião. O apoio do grupo religioso é muito importante para o crescimento espiritual.

Talvez o baixo índice de recuperação esteja nesta discrepância que existe na intensidade do tratamento do dependente e o tratamento da família.

Quando o dependente sai de uma internação, ele precisa buscar em primeiro lugar a Deus para que possa ter: força (para dizer não as drogas, a cada momento), coragem (para enfrentar desafios, trabalho, estudo, e possíveis frustrações), perseverança (para não desistir diante das dificuldades), sabedoria (para lidar consigo mesmo e com as pessoas, principalmente quando desconfiarem dele.

O dependente tem uma tarefa difícil que é recuperar a confiança das pessoas), discernimento (para escolher novas amizades e lugares que deve frequentar), alegria (a verdadeira alegria brota do nosso relacionamento íntimo com Deus, a alegria é um dom de Deus).

Não são poucos os obstáculos e desafios que fazem parte da sua volta para casa e da sua reinserção na vida social. Uma espiritualidade definida e fortalecida não elimina as possibilidades de recaída, mas, com certeza diminui bastante os riscos.


Por Regina - Voluntária do Grupo São João Bosco de Amor-Exigente - São José dos Campos - SP

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