domingo, 11 de setembro de 2011

Urbano, crack chega aos canaviais.


Acessível por causa do preço, substância tem sido usada por cortadores para aumentar a produção e reduzir o cansaço

por Tisa Moraes 

Escondida entre os talhões de cana-de-açúcar das plantações da região, uma droga comumente consumida nos grandes centros urbanos avança silenciosamente. Mais barato que a cocaína e mais potente do que a maconha, o crack está se transformando na principal válvula de escape para quem tem de cortar mais de dez toneladas de cana durante dez horas por dia.

Na tentativa de minimizar as sensações de dor e cansaço inevitáveis na lida com o podão (facão), bóias-frias historicamente apelaram ao uso de substâncias entorpecentes, como o álcool. Ainda hoje, a aguardente é companhia constante dos lavradores, mas o espaço que o crack vem ocupando nos canaviais nos últimos anos é espantoso, segundo a avaliação de especialistas.

“Há dez anos, não se tinha conhecimento da presença de crack dentro dos canaviais. Hoje, de cada dez trabalhadores rurais viciados, nove usam a droga. É o que predomina nas lavouras. A dependência que ele causa é impressionante”, analisa o psicoterapeuta Edson Aparecido Barboza, que há dez anos presta serviços na Casa Dia de Jaú, voltada ao atendimento de dependentes químicos.

Ao longo do último ano, a entidade recebeu 15 cortadores de cana-de-açúcar vindos de cidades da região para tratar da dependência desta substância. O último deles, C.R.H., 23 anos, está internado porque, em apenas quatro meses no campo, em Barra Bonita, perdeu toda a capacidade de trabalho pelo uso do crack.

“Comecei a usar com os colegas de serviço e, em pouco tempo, estava gastando todo o meu pagamento para poder fumar. Comprava todos os dias. Se não tinha dinheiro, roubava do meu pai. Era difícil controlar a vontade”, revela ele, que pagava R$ 10,00 por cada pedra do alucinógeno.

C.R.H. conta que, assim como ele, outros tantos lavradores ainda vivem esta mesma realidade. “Eles usam a droga, conseguem cortar bem mais cana e não sentem tanto o cansaço. A gente usa para agüentar o serviço pesado e acaba ficando dependente”, afirma, ressaltando que um primo seu também foi afastado recentemente do trabalho em virtude do mesmo vício.
 

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